Um pai no meio de 60 mães e filhas
“Eu e minha filha chegamos na escola com nossos pijamas. O cheiro de pizza flutuava no ar, puxando-nos para o refeitório que em breve se encheria com 30 jovens e energéticas meninas, juntamente com 30 pais em um silêncio nervoso.
O evento foi descrito como um programa para oferecer informações sobre o processo de crescimento, assim como uma preparação para as mudanças que estavam por vir na vida das alunas e seus corpos.
Se isso soa terrivelmente familiar, então você pode reconhecer este momento como “aquela conversa”. Aquele momento terrível quando um pai tem de entender o fato de que seu bebê não é mais um bebê e a adolescência está ali na esquina.
Você deve estar se perguntando, por que eu – um homem – estava levando a minha filha para um evento povoado exclusivamente por mulheres e suas filhas? Porque a minha filha me pediu. E se minha filha confia em mim o suficiente para me pedir para acompanhá-la em um evento que tinha como tema este assunto, eu quero continuar nutrindo esta confiança.
Afinal, é esta confiança que irá manter nossa comunicação fluindo livremente mais tarde na vida. Os olhares curiosos e duvidosos das mães e suas filhas poderiam me fazer sentir desconfortável ou fora-de-lugar, mas não esta noite. Esta noite, eu estava lá para a minha menina.
Será que o pai sabe alguma coisa sobre menstruação?
Então o evento começou. As meninas se revezavam levantando-se para se apresentar seus convidados adultos. Meninas após meninas apresentaram suas mães, mas quando a minha filha se levantou, ela orgulhosamente apresentou o seu pai, o que foi recebido com um coro “Óóó…”.
Depois disso, todos, adultos e crianças, participaram de um quebra-gelo. Como um jogo de pseudo-bingo, o objetivo era andar pela sala fazendo perguntas relacionadas aos detalhes da puberdade para ver se alguém sabia as respostas. Nós só podíamos fazer uma pergunta para cada pessoa. O primeiro a encher a folha de respostas ganhava um prêmio. Mas o que aconteceu depois me surpreendeu.
Conforme as mães se aproximavam de mim, elas faziam as perguntas mais simples na lista: “No que você se considera bom?” “O que a auto-estima significa para você?” “Com quem você deve falar se você tiver dúvidas sobre a puberdade?”. Nenhuma mãe me perguntou qualquer uma das outras perguntas mais detalhadas da lista: “Quanto sangue é perdido durante a menstruação?”, “Quanto tempo dura um ciclo menstrual?”, “Quantas vezes você deve trocar o seu absorvente?”
Curiosamente, porém, conforme o jogo progrediu, as meninas de 10 e 11 anos de idade pareciam mais à vontade me fazendo as perguntas mais difíceis.
Crianças destemidas e adultos rindo de nervoso
Terminado o quebra-gelo, em seguida, nos foi apresentado um vídeo informativo. Durante o vídeo, os personagens falaram de forma constrangida e desajeitada sobre as mudanças no corpo (seios, espinhas, pêlos do corpo, quadris, etc.), como o sistema reprodutivo funciona e todos os detalhes sobre o primeiro ciclo menstrual. Risos nervosos perfuravam o silêncio constrangedor durante o vídeo reproduzido, e com cada um, a tensão crescia.
Após o vídeo, era hora das meninas fazerem perguntas. Algumas foram corajosas o suficiente para fazer suas perguntas publicamente, enquanto outras optaram por apresentá-las anonimamente através de bilhetes entregues à enfermeira facilitadora da conversa. As perguntas foram honestas e cheias de curiosidade sobre o futuro e, apesar das risadinhas inevitáveis, eles lidaram com a conversa muito bem.
As reações dos adultos durante o evento, no entanto, eram outra história. Muitos ficaram corados. A maioria estava cochichando. Alguns pareciam que queriam estar em qualquer lugar, longe do refeitório da escola em uma terça-feira à noite falando sobre puberdade e menstruação com suas filhas.
Tomando coragem para quebrar o tabu
Foi quando eu tive que dizer algo, pelo amor que tinha à minha filha.
Anunciei que, se eu, como pai – e como responsável – tratasse temas como este como se eles fossem tabu, então por que minha filha se sentiria confortável falando comigo sobre eles? Eu disse “não, obrigado!”. Eu quero que minha filha sinta o próprio corpo como normal e natural.
Então, eu falei sobre menstruação.
Chutei em voz alta quanto sangue uma menina perde durante cada ciclo. E eu orgulhosamente respondi uma das perguntas e mostrei que sabia que a menstruação durava de três a sete dias, em média.
Eu não tive problema algum em informar a todos que o ciclo menstrual durava cerca de 28 dias. Tampouco me ofendi quando me perguntaram sobre a importância de acompanhar a duração desses ciclos.
Fiz minha menina se sentir mais segura, dizendo-lhe que, pouco antes de iniciar a menstruação, ela poderia achar seus amigos e familiares subitamente irritantes e intoleráveis. E que está tudo bem, porque isso é normal e muitas meninas se sentem assim.
Eu não estremeci nem cochichei quando eu disse à ela que sua menstruação poderia vir amanhã, ou daqui a 5 anos e que independente de quando viesse, ela continuaria sendo 100% normal. Também disse que sua mãe e eu estaríamos lá para responder a quaisquer perguntas que ela pudesse ter, não importando quais.
O pai também pode comprar absorventes
Por fim, eu disse à minha filha que estaria disponível a qualquer momento que ela precisasse para comprar absorventes. Também a lembrei de que, um dia, quando ela estivesse pronta para um relacionamento, qualquer pessoa que valesse o seu tempo deviria se sentir da mesma forma.
Portanto, qualquer cara que tenha vergonha de dizer ao mundo que ele tem uma menina com um útero que funciona em casa não vale a pena.
É hora dos homens e pais assumirem um papel mais ativo na educação de suas filhas a aceitá-las em tudo o que elas são e sempre serão.
Também é hora de pais e mães, mas especialmente pais, pararem de tratar temas como menstruação e puberdade como se estivessem lidando com uma doença contagiosa.
É hora de todos nós fazermos com que nossas filhas (para não mencionar outras meninas e mulheres) se sintam menos como um segredo sujo e mais como algo valioso, que é o que elas realmente são!
Ponto final.”