Como pode algo que brota do chão, cai do céu e pertence à natureza se tornar um produto para enriquecer alguns poucos?
A água é um dos bens mais preciosos do nosso planeta. Ela está diretamente ligada à vida em todas as suas mais diversas formas. Representa 70% do nosso corpo e cobre 71% da superfície da Terra. Ou seja, água é tudo!
O portal Live Science traz alguns dados interessantes: desse tanto todo, só 0,3% pode ser consumido, sendo que metade disso fica concentrada em seis países –Brasil, Canadá, China, Rússia, Indonésia e Colômbia – e um terço de todas as pessoas vivem em situação precária de acesso à água.
Num cenário desses, a gente até podia pensar que as garrafas seriam ótimas para democratizar o acesso à água, né? Porém a realidade não é bem assim. Esse recipiente que deveria levar vida para todos, no fim das contas, é uma das maiores ameaças para nós.
Bora mergulhar nesse assunto e entender onde a gente se encontra nesse oceano de informações?
De elemento da natureza a mercado bilionário
Em menos de cem anos, a garrafa plástica se tornou inimiga número um do planeta, beneficiando um seleto grupo de pessoas que lucram em cima do que deveria ser um direito básico de todos.
O The Guardian fez uma pesquisa bem profunda sobre o assunto, em 2016, mostrando vários fatos importantes sobre a história da água, até chegar em datas bem recentes.
No começo do século XX, em vários locais do mundo, ocorriam epidemias de tifo, doença que acontece através da ingestão de água contaminada por bactérias. Depois de vários experimentos na Alemanha e na Bélgica, foi constatado que o cloro matava essas bactérias. Em 1908, Nova Jersey se tornou a primeira cidade do mundo a ter água tratada com cloro disponível para todas as pessoas em larga escala. Deu tão certo que o tratamento se espalhou pelo mundo e ainda hoje segue sendo usado – inclusive aqui, no Brasil!
Nessa época, era comum a venda de água engarrafada para supostos fins medicinais, um mercado que crescia muito. Mas com o acesso à água potável e de qualidade na torneira das pessoas, esse negócio caiu. Somente famílias muito ricas seguiram fazendo questão de pagar caro pela bebida engarrafada, muito mais por manter um status social do que pela qualidade em si. Nada a ver, né?
As coisas seguiram mais ou menos assim até 1977 com a chegada de garrafas de Polietileno Tereftalato (PET) às indústrias de bebidas, o que possibilitou que garrafas plásticas conseguissem manter a pressão da água com gás. Assim, a indústria de águas engarrafadas em plástico voltou a decolar.
Com a desculpa de ser um material reciclável e poder ser ‘transformado’ em outras coisas depois do uso, o plástico era sinônimo de modernidade, inovação e (socorro!) um símbolo de ecologia, passando a ser o material queridinho das indústrias e dos consumidores.
Além disso, em 1982, a nova moda era parecer saudável, não necessariamente ser (aquela hipocrisia que a gente conhece, né?). Sabe quando a gente vê em filme as pessoas no restaurante pedindo bebidas caras pelo nome da marca, ano, safra? Bem, imagina alguém fazendo isso com garrafa de água! Foi exatamente o que a revista Time relatou na época. Por sorte, a moda logo passou.
Na década de 1990, as garrafas de plástico se tornaram o padrão, principalmente para as bebidas sem álcool. Com as vendas de refrigerante caindo um pouco pela preocupação com a saúde, as grandes marcas desse segmento decidiram lançar suas próprias linhas de água. Essas primeiras tentativas não foram pra frente, saindo de circulação pouco tempo depois.
Muito além de uma preocupação com a saúde, o comércio em cima da água é um dos mais lucrativos do mundo. Usando os valores da Inglaterra (local de origem dessa pesquisa), o custo de uma libra na venda de uma garrafa de água poderia pagar por 1.000 galões de água da torneira. E o mais engraçado – ou trágico – nessa história, é que a maioria das águas vendidas em garrafas vem justamente da torneira. Afinal aquele famoso filtro resolve tudo né?
Agora uma coisa pra deixar a gente de cabelo em pé e nos dar um beliscão no braço pra ter certeza que não estamos sonhando: tem uma garrafa de água da Coleção de Luxo Edição Diamante (Luxury Collection Diamond Edition) que custa 100 mil libras (mais ou menos meio milhão de reais). Ela vem em uma caixa com ouro branco e mais de 850 diamantes. (oooi?) Pra algumas pessoas, há muito tempo a água deixou de ser um direito para se tornar propriedade ou um artigo de luxo, enquanto ⅓ da população mundial não têm a garantia de acesso à água potável. Parece no mínimo injusto né?
Bom, mas hoje não são só as pessoas mais ricas do mundo que compram água envasada em plástico. Segundo o portal EcoDebate em 2019, só no Brasil consumimos 9 bilhões de litros de água engarrafada por ano. E aqui entramos em um outro problema tão preocupante quanto: o que acontece com as garrafas depois de poucos minutos de uso?
O grupo The Story of Stuff (A história das coisas), em um vídeo super didático e informativo, fez um levantamento e concluiu que 32% do plástico consumido vai para a natureza, 40% vai para lixões e aterros sanitários, 14% é incinerado liberando gases tóxicos, 14% é destinado à reciclagem e desses somente 2% são reciclados de verdade.
Ou seja, faz pelo menos cinquenta anos que o plástico que não é reutilizado ou reciclado é descartado. E aí o problema começa a ficar sério de verdade, porque quando olhamos para o planeta como um todo, não existe essa de “jogar fora”.
A fundo no problema
O plástico faz mal pra gente e pro planeta de ponta a ponta, desde sua fabricação até seu descarte.
Ele é feito a partir de uma resina, derivada do petróleo, que em sua extração e refinação, libera muitos gases poluentes. A Lavit, empresa de filtros de água, fez umas contas pra gente entender melhor o cenário: para fabricar uma única garrafa plástica de um litro é necessário o uso de 3 litros de água em seu processo (como assim?) e 4 milhões de joules de energia – o equivalente a 4 milhões de lâmpadas de 100w acesas ao mesmo tempo! Resumindo, é coisa pra caramba, e isso é uma única garrafa.
Na outra ponta, 8 milhões de toneladas de plástico são indevidamente jogados na natureza por ano, liberando substâncias tóxicas e ameaçando a vida nos ecossistemas. Podemos lembrar também que ele demora mais de 400 anos para se decompor. Enquanto esse tempo não chega, ele vai se fragmentando e gerando os microplásticos, que contaminam nossa água, nosso solo, nosso ar, nossos corpos e têm consequências ainda desconhecidas para a nossa saúde. De uma coisa temos certeza, o que nos espera não vai ser legal.
Parece bem ruim, né? Mas tudo que é ruim tem solução e a gente vai pular nesse assunto de cabeça!
Tá, e agora o que eu faço?
Bom, pra solucionar o problema de uma vez por todas, precisamos de políticas públicas das autoridades em todas as esferas (municipais, estaduais, federais e até mundiais), regularizando a produção de plástico, evitando ao máximo sua produção, principalmente no que diz respeito aos plásticos de uso único, usados em embalagens e produtos descartáveis.
Enquanto isso não acontece, podemos fazer a nossa parte e evitar a compra de água engarrafada, adotando uma garrafa reutilizável para enchermos e levarmos quando sairmos de casa. Se não der pra levar uma garrafa, ter um copo ou uma canequinha para bebermos nos filtros e bebedouros pode ser uma boa alternativa também. Uma ótima dica é usar o copo retrátil reutilizável da Korui que é super compacto e cabe na bolsa.
Para ajudar de verdade o planeta, podemos reduzir o uso do plástico como um todo em nossas vidas, e um bom começo é com as garrafas d’água. A gente falou bastante sobre isso nesse texto aqui!
Vamos entrar nessa e ajudar a virar o jogo a favor da vida? Você já abandonou as garrafas de plástico? Divide a sua experiência com a gente!
Na pesquisa para este texto, foram consultadas também as seguintes fontes, além das já citadas ao longo do blog:
Birth of the Bottled Water Industry (bccresearch.com)
Qualidade da água — Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos (snirh.gov.br)
1 comentário
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