Imagine a seguinte situação. Você está menstruada e não tem acesso aos seus produtos básicos de higiene menstrual. O que você faria? Agora imagina ter que lidar com essa situação toda vez que menstruar!
Infelizmente essa é a realidade de milhōes de meninas e mulheres ao redor do mundo. Direitos básicos como acesso a produtos menstruais, água encanada e um banheiro com privacidade são considerados itens de luxo em muitos países, inclusive aqui no Brasil.
Dessa forma, meninas deixam de frequentar a escola, mulheres precisam lidar com o estigma da menstruação e muitas colocam a saúde em risco ao recorrerem a soluções improvisadas como retalhos de pano, jornais e até mesmo miolo de pāo durante o período menstrual.
Entenda o que é a pobreza menstrual, quais são as suas consequências e saiba o que podemos fazer para combatê-la.
O que é a pobreza menstrual?
A pobreza menstrual vai muito além da falta de dinheiro para comprar produtos de higiene menstrual adequados. Ela denuncia um problema global da falta de acesso à água, saneamento básico e desigualdade social.
Moradoras de rua, mulheres que vivem em abrigos ou em campos de refugiados e pessoas em situação de pobreza são as populaçōes mais vulneráveis à esse problema.
Quando condições básicas para lidar com a menstruação são precárias ou inexistentes, menstruar acaba se tornando um fardo para muitas mulheres e até mesmo uma questão de saúde pública.
No livro “Presos que Menstruam”, a autora Nana Queiroz relata a falta de assistência do Estado em disponibilizar absorventes para a população carcerária no Brasil, o que acaba tornando esse produto uma moeda de troca nas prisões.
Quanto custa menstruar?
A precariedade menstrual carrega um carga mental muito pesada para milhares de mulheres.
Uma adolescente em situação de pobreza certamente se sentirá culpada por pedir produtos de higiene menstrual, enquanto vê seus pais contarem as moedas para comprar comida.
E o custo da menstruação é alto demais para quem tem pouco. Quem menstrua gasta em média R$ 12 em absorventes descartáveis todo mês. Isso equivale a uma despesa de R$ 6000 durante todo o seu o período fértil!
Diante disso, notamos que a dignidade menstrual ainda é um privilégio na nossa sociedade. Afinal, quando tantas mulheres precisam ponderar entre comprar comida ou absorventes, estamos longe de uma condição de vida digna, não é mesmo?
Saiba mais sobre quanto custa a menstruação
A pobreza menstrual e seus números alarmantes pelo mundo
Segundo a ONG ActionAid, 1 em cada 10 meninas na África falta a aula por falta de produtos sanitários ou porque não há banheiros seguros e com privacidade na escola.
Somente no Quênia, cerca de 50% das meninas em idade escolar não tem acesso a produtos de higiene menstrual. Enquanto isso, na Índia 23% das meninas param de frequentar a escola quando começam a menstruar.
Mas essa não é uma situação restrita a países em desenvolvimento, de acordo com a ONG International Plan.
Para se ter uma ideia, cerca de 10% das meninas no Reino Unido também não tem condições de adquirir esse tipo de produto. Além disso, 19% delas afirmaram que já usaram soluções improvisadas como trapos de tecidos, jornal e papel higiênico nos dias menstruais.
A pobreza menstrual no Brasil
No Brasil estima-se que 23% das meninas entre 15 a 17 anos não tem condições financeiras para adquirir produtos seguros para usar durante a menstruação. E acreditem ou não, absorventes são considerados produtos supérfluos no Brasil, e tributados como tal, o que aumenta consideravelmente o custo de fabricação e consequentemente o preço final.
Outro problema aqui mesmo no nosso país é a falta de saneamento básico. Segundo a ONG Trata Brasil, 1,6 milhões de pessoas não tem banheiro em casa, 15 milhōes nāo recebem água tratada e 26,9 milhōes moram em lugares sem esgoto.
Em um cenário muito real, uma menina brasileira, além de não ter acesso à produtos de higiene menstrual, sequer tem privacidade para lidar com a sua menstruação, uma vez que sua casa ou escola podem não ter um banheiro adequado.
Somado à isso, muitas ainda precisam enfrentar o tabu que a menstruação ainda carrega na nossa sociedade. Falta de informação, comentários maldosos e estigmas culturais contribuem ainda mais para tornar a vida de meninas e mulheres ainda mais difícil.
Quais são as consequências da pobreza menstrual?
Além da carga mental por não ter condições básicas para menstruar, a pobreza menstrual contribui ainda para aumentar a desigualdade entre homens e mulheres.
Como resultado da precariedade menstrual, meninas acabam faltando mais dias na escola durante a menstruação, o que pode prejudicar seu desempenho escolar.
As consequências disso a longo prazo são graves, pois com a educação comprometida, a desigualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho se acentua. Dessa forma, as chances dessas meninas quebrarem o ciclo da pobreza e adquirirem autonomia financeira diminuem ainda mais.
Como se não bastasse, a própria saúde física dessas meninas e mulheres é colocada em risco. Ao utilizar papeis, trapos, miolos de pão ou até mesmo reutilizar um absorvente descartável o risco de infecções urinárias e vaginais aumentam consideravelmente.
Diante de tudo isso, não há dúvidas de que a menstruação deve ser tratada como uma questão de saúde pública. Sendo assim, nossa luta deve ser para que a dignidade menstrual seja um direito garantido a todas nós.
E o que podemos fazer para combater a pobreza menstrual?
Quebrar o tabu e falar sobre menstruação
Um dos primeiro passos é normalizar a menstruação, afinal de contas ela é um processo natural do nosso corpo. Uma forma de fazer isso é acolher e informar meninas a respeito do tema antes mesmo da primeira menstruação.
Dessa forma, desde crianças, elas podem entender que menstruar é algo que não precisa ser motivo de vergonha. Pelo contrário. É sinal de que tá tudo bem com o nosso corpo.
E os meninos também podem ser engajados no assunto desde cedo. Assim, as gerações seguintes poderão tratar a menstruação como ela deve ser tratada: com naturalidade e mais leveza!
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Buscar informação sobre o assunto
Uma das estratégias para erradicar a pobreza menstrual é falar sobre ela. Pesquise informações sobre o tema e traga esse assunto nas conversas com amigos e familiares.
Quanto mais falarmos a respeito, mais pessoas se tornam conscientes de um problema que ainda é pouco debatido. Fazendo isso, maiores são as chances de mobilização para transformar a realidade ao nosso redor.
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Exigir políticas públicas para dignidade menstrual
Outro ponto importante é trazer visibilidade para a pobreza menstrual nas pautas governamentais.
Desse modo, é nosso direito cobrar dos governantes projetos que assegurem produtos de higiene menstrual como um direito básico. E chega de considerar absorvente como artigo de luxo, supérfluo! Absorvente é necessidade básica!
Além disso, podemos exigir iniciativas públicas que democratizem o acesso à informações sobre menstruação de uma forma positiva e saudável.
Apoiar iniciativas de arrecadação de produtos de higiene
A mudança também pode começar por nós. Procure por iniciativas na sua cidade para arrecadar e distribuir produtos de higiene pessoal com responsabilidade, por exemplo.
Se não existir nenhum projeto parecido, você mesma pode começar essa iniciativa com boa-vontade e de uma forma simples. Reúna pessoas dispostas a ajudar e comecem juntas a mudança aí mesmo no seu bairro, na sua escola ou no seu trabalho.
Conhecer o projeto Dona do Meu Fluxo
O projeto Dona do Meu Fluxo é uma iniciativa criada pela Korui em parceria com a Raízes Desenvolvimento Sustentável. O projeto tem como propósito doar 1 coletor menstrual a cada 10 vendidos.
O coletor menstrual é um copinho de uso interno, feito de silicone medicinal e que coleta o fluxo de uma forma segura e prática.
Além da doação de coletores, o projeto promove iniciativas sustentáveis a longo prazo. Afinal de contas, o coletor é reutilizável e pode durar até 10 anos! Sendo, portanto, uma opção mais amiga do planeta.
As doações ocorrem no formato de rodas de conversa, criando um ambiente seguro entre mulheres. E a curiosidade despertada pelo copinho é um caminho para quebrar o tabu. Dessa maneira, abre-se espaço para falar de outros assuntos importantes, como empoderamento feminino, sororidade, saúde e sustentabilidade.
O projeto já percorreu comunidades na Amazônia e no Sertão Mineiro, beneficiando milhares de brasileiras desde que foi criado em 2017.
Nenhuma menina vai ficar pra trás pelo simples fato de menstruar! O que podemos fazer para mudar essa realidade? Vamos juntas lutar por dignidade menstrual para todas?