Setembro Amarelo: Mês do Acolhimento

Setembro Amarelo: Mês do Acolhimento

Estamos no Setembro Amarelo, mês da campanha nacional de prevenção ao suicídio.

Segundo o site oficial da iniciativa, são mais de 13 mil suicídios por ano aqui no Brasil. É uma situação bastante triste, mas podemos mudar essa realidade ao falar sobre o assunto – ainda mais quando 98% dos casos de suicídio estão relacionados a transtornos mentais.

Pra entender mais essa questão, convidamos a psicóloga clínica Karina Pedro pra conversar um pouco com a gente e responder algumas questões sobre saúde mental, depressão, suicídio e nossos ciclos!

 

PAPO SÉRIO: SAÚDE MENTAL, DEPRESSÃO E PREVENÇÃO AO SUICÍDIO 

Quando falamos em saúde mental e do que nos afeta, ou o que acontece com a gente, podemos dividir o tema em duas partes: 1 – o fato que ocorreu, sobre o qual não temos mais controle, afinal é um evento no passado; 2 – como reagimos a este fato. Quando falamos de cuidados com a saúde mental, focamos nessa segunda parte, que é a única sobre a qual realmente temos controle.

 

– Por que é importante falar sobre depressão e saúde mental?

Ao longo de nossa vida, quase não recebemos educação emocional, então tem muita coisa que não entendemos direito, ou que não sabemos como lidar.

Quando falamos sobre a depressão, ela deixa de ser um objeto estranho e passamos a reconhecer os seus sinais e a entender quando nós ou alguém próximo precisa de ajuda.

A conversa aberta quebra o tabu em cima do assunto e ajuda a nos informar. Precisamos entender o que é depressão, pra aí então lidarmos com ela.

 

– Todo mundo precisa de terapia? Terapia é importante pra quem?

A terapia pode ajudar muitas pessoas a lidar com suas rotinas, seus sentimentos e suas angústias – independente de qualquer diagnóstico.

Não necessariamente todo mundo precisa de terapia. 

O acompanhamento psicológico é recomendado para quem está em sofrimento muito intenso, a ponto de atrapalhar de fato questões da vida cotidiana. Quando deixa de ser algo pontual e passa a ser algo recorrente na vida da pessoa.

 

– Como saber se alguém próximo precisa de terapia ou acompanhamento clínico?

Observando! 

Reparando em comentários muito pessimistas, ou mudanças sutis no humor e no comportamento. Varia bastante de pessoa pra pessoa.

O ideal é conseguir entender junto com essa pessoa como ela gostaria de receber ajuda, e conversar a respeito da possibilidade de um acompanhamento clínico. 

É importante também que a pessoa decida por vontade própria ir atrás de ajuda clínica e não vá forçada. Reconhecer que precisa de ajuda e ir buscar de fato uma mudança é um passo importante nessa caminhada!

Ainda assim, se a pessoa se dispuser a comparecer às sessões e se comprometer com o tratamento proposto, mesmo que com receios ou relutante, já pode fazer diferença pro cuidado emocional.

Lembrando que a psicologia verbal (como são as terapias mais comuns), leva tempo e precisa de um longo acompanhamento pra começarmos a ver o resultado na vida da pessoa.

 

– Como saber se alguém tem depressão?

Saber mesmo, de verdade, só com diagnóstico de um profissional da saúde.

Porém, existem alguns sinais que podem indicar a necessidade de um acompanhamento clínico.

Quando alguém com depressão está passando por um momento difícil, pode perder sua funcionalidade. A depressão se manifesta, por exemplo, por discursos muito negativos e introspectivos, envolvendo um sofrimento emocional intenso pra caramba.

Muitas pessoas também não conseguem levantar e ir realizar as atividades rotineiras da vida por um tempo longo, sem motivo aparente. Não só em um evento isolado, mas em tudo (trabalhar, sair com amigos, tirar os pijamas, comer…) porque tudo pode gerar um sofrimento pra essa pessoa.

Só temos que ter o cuidado de não confundir depressão com falta de vontade, e também para não achar que um sentimento muito triste é um quadro depressivo. Todo mundo tem direito de sentir tristeza e insegurança. A depressão vai muito além disso.

E atenção! Nem todo mundo com pensamentos suicidas sofre de depressão, e não é todo mundo com depressão que tem pensamentos de tirar sua própria vida. 

 

– O que posso fazer pra ajudar quem pensa em suicídio?

ACOLHIMENTO!

Podemos oferecer ajuda, acolhimento e entendimento, buscando compreender o que ela está sentindo e o que acredita que precisa para melhorar.

Comentários como “ah mas você tem uma vida tão boa! Como pode pensar isso?” não ajudam, porque a intenção de tirar a própria vida vai muito além de um desejo ou de uma questão de vontade consciente. Passa por uma questão neurológica, química e biológica. 

O que uma pessoa com pensamentos suicidas realmente precisa é acolhimento, sem julgamentos nem imposições. Acolhimento e intervenção profissional. 

 

– Terapia pode evitar o suicídio? 

Com certeza!!!

 

– Não consigo pagar por uma terapia, e meu plano de saúde não cobre, o que eu faço?

Muitas universidades, faculdades e escolas de formação em abordagens específicas precisam que seus estudantes realizem estágios clínicos supervisionados. Nesses casos, essas instituições oferecem ao público a possibilidade de acompanhamento profissional gratuito ou por um preço simbólico, bem abaixo do valor cobrado em consultas particulares.

Outra possibilidade é através do serviço público, como CAPS / CREAS / CRAS Centros de Referência de Assistência Social (Cras), Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) e nos Centros de Atenção Psicossocial.

Se é para um caso urgente, que não pode aguardar, recomendamos contatar o Centro de Valorização da Vida, com atendimento anônimo por telefone ou chat, sem agendamento prévio.

 

– Tanto se fala de rede de apoio, mas como é isso? Como construo a minha? Onde posso encontrar um grupo de apoio?

Uma rede de apoio nada mais é do que pessoas que conhecemos e que confiamos, que podemos contatar quando não estivermos em plena função. 

Por exemplo, em crises de ansiedade ou pânico, temos bastante dificuldade em pensar direito no que precisamos, então chamamos alguém pra nos atender, nos acalmar e colocar nosso pé no chão até que a gente volte a ter controle sobre nossas emoções.

Essas pessoas próximas podem ser da família, pode ser amiga, amigo, alguém com quem nos relacionamos amorosamente, alguém da escola, faculdade, etc. 

Quando não temos ninguém em que confiamos pra isso, aí procuramos grupos específicos, de pessoas que sofrem da mesma questão que nós. O exemplo mais famoso é o Alcoólicos Anônimos, que em suma é um encontro de pessoas que não se conhecem e se juntaram por passarem pelas mesmas questões, pra se ajudar mutuamente.

A rede de apoio serve pra tirar o peso de nós, pra não sermos mais a única pessoa responsável por lidar com aquela situação de estresse e crise.

 

– Como podemos nos cuidar pra melhorar nossa saúde mental?

Um ótimo começo é iniciar o movimento de olhar pra nós. 

Biologicamente, temos mais facilidade em prestar atenção em qualquer pessoa menos na gente. Isso pode fazer com que nem sempre a gente tenha consciência de quem somos, como agimos e do que sentimos.

Então podemos começar esse cuidado fazendo esse processo de maneira consciente. Um bom exercício é dedicar 15 minutos na semana, por exemplo, pra fazer um balanço geral do que tá rolando com a gente, se estamos nos sentindo bem, se tem algo que nos traz empolgação ou então que nos tira a energia. Ir pensando em alternativas pras coisas que parecem não estar funcionando, e entendendo onde temos controle e onde não temos.

Por menor que pareça, isso contribui bastante pra nossa saúde mental e nosso bem estar. 

E é desse tipo de consciência que vem a busca de ajuda.

 

SOBRE KARINA PEDRO

Karina é mãe da Lorena de 5 anos. Se graduou pela UNISUL em 2011 onde atuou academicamente da Clínica da Gestalt Terapia no atendimento de dinâmicas de psicóticas e em projetos de orientação profissional. 

É qualificada em Recursos Humanos, onde trabalhou por 10 anos em avaliação de perfil, treinamento e desenvolvimento humano. Há 6 anos atua como Psicóloga Clínica com especialização em Terapia EMDR, formação em tratamentos avançados em terapia de casais, traumas complexos, trauma intrauterino, estresse pós-traumático, Transtornos Dissociativos, depressão e ansiedade generalizada.   E hoje, está em formação em Terapia Brainspotting

(CRP 12/10397)

 

UFA! É bastante informação, né?! 

O resumo da ópera é que precisamos nos conhecer, física e emocionalmente. E existem vários caminhos pra isso. Podemos fazer terapia ou meditar. Só a gente sabe o que vai funcionar com a gente!

E o mais importante, não precisamos ter medo nem vergonha de pedir ajuda se acharmos que é necessário!

Que tal aproveitar o momento para construir e fortalecer sua rede de apoio?

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