Crise climática, desigualdades sociais, mar de plástico, poluição, epidemias globais. Todos esses são problemas do nosso sistema econômico. Tendo em vista esse cenário, não demorou muito até que começássemos a apontar os culpados. Foi aí que começamos a ouvir termos como consumo desenfreado e consumo consciente. Pois é, pessoas foram reduzidas a “consumidores” e de uma hora para a outra, a culpa caiu sobre elas. Mas será que a culpa é apenas das pessoas que consomem?
O estudo “Atlas do plástico”, publicado em 2020 pela Fundação Heinrich Böl, aponta que há uma forte tendência da indústria do plástico e petroquímica a responsabilizar apenas quem compra quanto à crescente quantidade de lixo produzido no planeta. Na maioria das vezes, o que vemos são políticas e publicidades direcionadas ao comportamento das pessoas, como, por exemplo, evitar o lixo e realizar a reciclagem. Mas esquecemos de levar em consideração as causas pelas quais as pessoas consomem dessa forma hoje.
Durante muito tempo, informações foram manipuladas e acreditamos que cigarros eram legais, por exemplo, e que leite em pó dentro de uma lata era saudável. E, usando conhecimentos a respeito da natureza humana, grandes corporações em busca de lucros incessantes moldaram o nosso comportamento no decorrer dos anos, estimulando o consumo. Passamos a acreditar que anéis de diamante eram prova de amor e os presentes de natal entraram para a nossa lista de tradições.
Sabia que a existência da tradição é justamente uma das diferenças entre os seres humanos e a maioria das outras espécies? A nossa habilidade de aprender com os outros e transmitir conhecimento foi o que manteve nossos ancestrais vivos durante milhares de anos. E agora, da noite pro dia, espera-se que os seres humanos abandonem seus hábitos e tradições? A verdade é que esse abandono realmente vai precisar existir, mas é importante entender que ele não vai acontecer de forma isolada. As mesmas empresas que deram origem ao comportamento consumista precisam assumir o seu papel perante o mundo e mudar sua forma de operação. É preciso que haja alternativas de produção mais sustentáveis para que a prática do consumo consciente seja possível. E é claro, as políticas públicas são extremamente necessárias também. Apenas em conjunto podemos começar a construir um futuro diferente.
E é aí que entram as empresas com propósito, cuja razão de existir deixa de ser o lucro incessante e passa a ser uma combinação entre lucro e impacto positivo para o mundo. Mas será que realmente é possível que uma empresa funcione desta forma? É sim! Chega mais!
Como funcionam as empresas com propósito?
Essas empresas se enquadram na categoria das empresas 2.5, ou negócios sociais, que se encontram entre o 2º setor (empresas privadas com fins lucrativos) e o 3º setor (ONGs sem fins lucrativos). Ou seja, são empresas com propósito e orientadas ao empreendedorismo sustentável, cujos valores levam em consideração o impacto social e ambiental.
O que diferencia as empresas com propósito das empresas tradicionais é que elas são engajadas em gerar impacto positivo no planeta. Essa virada de chave é resultado do entendimento de que as suas ações, quando realizadas sem cuidado e responsabilidade, podem prejudicar o meio ambiente, os animais e a própria sobrevivência da espécie humana. Quem aí se lembra do rompimento da barragem da mineradora Vale, que aconteceu em Brumadinho em 2019? Pois é, ela causou danos irreparáveis ao meio ambiente e à comunidade que ali vivia.
Nesse sentido, para as empresas gerarem impacto positivo, é necessário não apenas planejar ações que não agridam o meio ambiente e os direitos humanos, mas de fato se propor a solucionar problemas sociais e ambientais pré-existentes. A Korui, por exemplo, é uma empresa B certificada, e existe para solucionar o grave problema ambiental dos absorventes descartáveis. Cada pessoa que menstrua produz cerca de 150kg de lixo durante o período menstrual. E desde que a Korui existe já impediu o descarte de 150 milhões de absorventes ou o equivalente a 2.300 toneladas de lixo. Se enfileirados, esses absorventes dariam uma volta inteira no planeta!
Além de resolver problemas pré-existentes, as empresas com propósito são comprometidas a olhar para toda a sua cadeia de suprimentos, desde a matéria-prima usada no produto até a sua relação com os seus trabalhadores e a comunicação com os clientes. Acima de tudo, elas entendem que são agentes de mudança e devem se responsabilizar pelas suas ações no planeta.
A Korui também atua no combate à pobreza menstrual, por exemplo. Com o projeto Dona do Meu Fluxo a cada 10 coletores menstruais vendidos, 1 é doado. Mulheres em situação de vulnerabilidade social recebem não apenas os copinhos, mas levamos mas também conforto, autoconhecimento e dignidade.
Mas, então, como saber se essas empresas são realmente comprometidas com a causa que vestem? Como ter certeza do impacto que elas geram?
Como identificar uma empresa com propósito?
Hoje em dia é comum encontrar empresas tradicionais praticando o chamado greenwashing, termo que se refere à ações que relacionam a imagem de uma marca à defesa do ambiente, quando na verdade medidas reais que colaborem com a minimização ou solução dos problemas ambientais não são de fato adotadas. Sim, temos que ficar de olho!
Uma das coisas importantes para observar nas empresas é a transparência de suas ações, que pode acontecer de algumas maneiras, como na divulgação da origem dos produtos e matérias-primas utilizadas ou de informações sobre as pessoas que estão por trás do processo produtivo. O movimento Fashion Revolution, por exemplo, ficou conhecido pela campanha “quem fez minhas roupas?”, ao incentivar mais transparência das empresas e promover o combate ao trabalho análogo à escravidão, tão denunciado na indústria da moda. Várias empresas com propósito do setor abraçaram a causa!
Outra forma de garantir transparência é verificar se a empresa possui alguma certificação relacionada às boas práticas sociais e ambientais, como a do Sistema B. Fundada pelo empresário Jay Coen Gilbert em 2006 nos EUA, a certificação de empresa B garante o comprometimento das empresas em gerar benefícios para o planeta, ao solucionar problemas sociais e ambientais. Para conseguir a certificação as empresas passam por uma avaliação rigorosa que mede e analisa o seu impacto positivo, considerando 5 pilares: trabalhadores, clientes, comunidade, meio ambiente e governança. Para isso, as empresas B precisam cumprir algumas regras:
Desempenho: Preocupam-se em acompanhar e mensurar fatores que vão além do desempenho econômico do negócio, levando em consideração, acima de tudo, o impacto social e ambiental positivo que a empresa gera no curso da sua operação.
Responsabilidade: Assumem o compromisso de equilibrar o lucro e o propósito, a fim de criar valor sustentável de longo prazo para todas as partes interessadas.
Transparência: Comprometem-se em medir e relatar, anualmente e por meio de ferramenta de terceiros o impacto gerado por suas atividades, mostrando seu progresso no sentido de alcançar impacto social e ambiental para seus acionistas e para o público em geral.
No fim das contas, se informar sobre as empresas que estamos financiando é o melhor caminho para saber se elas realmente abraçam a causa. É uma forma também de nos aproximarmos delas. É assim que nos tornamos agentes de mudança. Afinal, queremos saber para onde vai o nosso tão suado dinheiro, não é mesmo?
A solução mora no coletivo
A solução é coletiva e cada um deve fazer a sua parte. Quem compra tem o dever de optar, sempre que possível, por alternativas sustentáveis e cobrar das empresas ações mais éticas e responsáveis. Cabe ao governo também promover ações, por meio de políticas públicas. Já as empresas, devem se responsabilizar pelo impacto que geram.
Ao compreender que precisamos pensar e agir coletivamente, movimentos como o Sistema B vão além da certificação. A ideia é impulsionar um movimento global de empresas com propósito, comprometidas em fazer o bem para a sociedade e o planeta, por meio das suas ações, produtos e serviços. Assim, cada empresa B tem o papel também de incentivar outras empresas. Assim podemos começar a construir um futuro diferente.
E aí, ouviu o chamado para o coletivo? Ao incentivarmos projetos que se comprometem em realizar práticas contínuas, estamos ajudando no impacto positivo a longo prazo. Você, consumindo de forma consciente, também faz parte desse movimento e ajuda a fazer do mundo um lugar melhor para as gerações futuras. 🙂
Agora conta pra gente! Já conhecia as empresas com propósito? Compartilha com a gente a sua experiência!