Saúde mental e ciclos menstruais

Já parou pra pensar em como conhecer nossos ciclos menstruais pode ajudar nossa saúde mental?

Conhecer o nosso ciclo e como ele pode interferir em nossas emoções nos ajuda muito a entender as necessidades e potencialidades do nosso corpo em cada período do mês. E isso é maravilhoso porque conseguimos aproveitar o máximo de cada fase e não surtar quando algo sai diferente do planejado. Assim como é melhor não marcar aquela aula de surf no dia que desce a menstruação, também não dá pra planejar a contabilidade da casa quando estamos de TPM. Nos conhecendo melhor podemos criar uma nova relação com o nosso corpo, com mais respeito e compreensão.

Nesse caminho, precisamos saber como o ciclo da menstruação funciona, suas trocas hormonais e como identificá-las. Então podemos registrar diariamente em que momento do ciclo nos encontramos e como estamos nos sentindo em cada momento. Depois de alguns meses, vamos conseguir identificar e talvez antecipar as emoções dos próximos ciclos.

Isso nos ajuda a identificar inclusive quando precisamos de um acompanhamento profissional, quando o mal-estar que sentimos passa dos limites e necessitamos da ajuda de alguém. 

Bora ver como tudo isso se relaciona?

MENSTRUAÇÃO: OS CICLOS DA VIDA

Começando do começo, vamos primeiro dar uma olhada em como os ciclos menstruais funcionam e o que os hormônios de cada fase podem fazer com a gente.

Fase Folicular

Essa fase começa no dia que a menstruação desce, e dura um pouco mais de uma semana, variando de pessoa pra pessoa.

Aqui, os hormônios estrogênio e progesterona estão baixos, enquanto o estradiol e o folículo-estimulante (FSH) aumentam. Este último faz exatamente o que seu nome diz: ele estimula a produção de folículos nos ovários. 

É bem na fase folicular que costumamos não ter muita disposição, sentir cólicas, dores de cabeça e sensação de cansaço. Esse período termina com aumento repentino do hormônio luteinizante (LH), que abre alas pra ovulação!

Sabe aquelas atividades bem cansativas que exigem bastante do nosso corpo, tipo trilha ou escalada? Ou então que exigem muita concentração por várias horas seguidas, como ler aquele livro denso, cheio de termos técnicos? Bom, se for possível, vamos evitar marcar essas coisas nesse período, pois elas podem parecer bem mais difíceis do que são, o que aumenta o estresse e afeta nossa saúde mental.

E o que fazer nesses dias então? Podemos optar por atividades mais mecânicas, coisas que já nos acostumamos e que não precisamos nos esforçar muito. Independente do que seja, o importante é levar na boa, respeitando nosso ritmo e nossa disposição.

Fase Ovulatória / Período Fértil

Como o nome indica, é o momento em que acontece a ovulação. O hormônio luteinizante (LH) estimula o rompimento do folículo ovariano, fazendo com que o óvulo seja liberado. Essa liberação acontece em algumas poucas horas, porém consideramos como período fértil três dias antes e três dias depois.

Disposição nas alturas, humor nunca esteve melhor, tudo é lindo e maravilhoso! E nossa libido então? Essas sensações todas e muitas outras são provocadas pelo hormônio estradiol (seu lindo).

Bora aproveitar essa energia toda pra fazer aquelas coisas chatas, menos prazerosas que mexem mais com nosso emocional. Atividades como encaixotar as coisas pra mudança, ter aquele papo reto que estamos evitando ou fazer a contabilidade da casa. Alguém aí falou faxina?

Se conseguirmos identificar o período fértil, conseguimos lidar com as atividades mais difíceis quando estamos com maior confiança em nós, fazendo com que essas coisas menos agradáveis gerem menos impacto na nossa saúde mental. Show de bola né?

Olá, TPM! Fase Lútea

Essa parte é um pouquinho maior, porque muita coisa acontece aqui (quem já teve uma TPM daquelas sabe do que estamos falando rsrs). Então bora lá!

A ovulação chegou ao fim, o folículo vazio estimula a produção de progesterona, engrossando as paredes do útero. Ou seja, é o nosso corpitcho que se prepara pra chegada de um bebê!

Quando a gravidez não acontece, a produção de estrogênio e progesterona diminui, levando com eles boa parte da nossa disposição e energia. A saída deles abre espaço pro cortisol, um hormônio relacionado à sensação de estresse e irritabilidade. É por conta dele que às vezes nos sentimos com ansiedade ou mal estar, a famosa Tensão Pré Menstrual.

Esse processo todo pode levar pouco mais de uma semana, e vai até o início da menstruação. Normalmente é durante a TPM que nos sentimos mais vulneráveis emocionalmente, e também mais sensíveis ao mundo.  

Cada pessoa passa pela TPM de um jeito diferente. Enquanto algumas pessoas não sentem nada, outras sentem tudo! O que é perfeitamente normal e aceitável.

Reconhecer quando a TPM vai começar pode ajudar a entender porque nos sentimos de determinada forma em alguns dias. Não que a causa de todo desconforto emocional esteja relacionado à TPM em si (ela também pode trazer momentos ótimos e incríveis), mas é um passo para nos compreendermos melhor! E num geral, não precisamos nos preocupar. Às vezes pode parecer que é o fim do mundo, aí precisamos respirar fundo, colocar o pé no chão e lembrar que vai passar e tudo vai ficar bem.

Tá, e agora Korui?

Nós vimos como funciona cada fase do ciclo menstrual, os hormônios envolvidos e um panorama geral dos sentimentos e sensações que constroem a montanha russa de experiências que passamos todo mês. 

Resumindo, quando a menstruação desce é o momento que nosso corpo está mais frágil, podendo ficar mais dolorido e cansado ao menor esforço. O período fértil nos deixa com a maior disposição do ciclo inteiro e é quando temos mais confiança em nós. Já durante a TPM podemos sentir algumas dores e nossas sensações ficam mais à flor da pele. É também o momento que estamos mais vulneráveis emocionalmente.

Pra entender como usar esse conhecimento pra melhorar nosso autocuidado, o próximo passo é buscar prever quando cada uma dessas fases menstruais vai acontecer.

Oi, calendário!

Agora que já entendemos como o ciclo menstrual pode influenciar na maneira como nos relacionamos com o mundo, vamos descobrir como acompanhar e prever cada ciclo. E tem um jeito bem simples de fazer isso: controlando!

Existem várias maneiras de fazer esse controle. Algumas pessoas gostam de usar aplicativos de monitoramento, enquanto outras preferem fazer uma mandala lunar (nesse blog aqui a gente explica tudinho sobre ela).

A ideia é manter um registro diário de como nos sentimos, como está nosso humor, nossa disposição e em que período do ciclo estamos. Vamos pegando o jeito conforme o andar da carruagem mesmo. Então sem neuras se nos primeiros ciclos ainda não conseguirmos colocar cada fase menstrual na ponta do lápis – até porque não tem certo e errado aqui. Esse controle é mais como um termômetro de nossas emoções.

Depois de uns dois ou três ciclos, vamos conseguir identificar alguns padrões em nosso comportamento. Começamos a notar que já nos sentimos de determinado jeito outras vezes, e que alguns momentos muito difíceis, que parecem nunca ter fim, na verdade, passaram. E talvez isso aconteça de novo. Tipo aquele dia que temos crises nervosas, e nos sentimos muito pra baixo, e nada parece funcionar. Será que não é justamtente o dia que o nosso fluxo menstrual tá mais intenso? Ou então o ápice da nossa TPM? Só vamos saber mesmo acompanhando nosso ciclo completo.

Reconhecer e prever em quais períodos determinadas situações podem nos afetar mais ou menos, nos prepara psicologicamente pra uma semana mais difícil, por exemplo. Então podemos de antemão nos cercar daquilo que nos faz bem para nos sentirmos mais fortes pra enfrentar o que está diante de nós!

Ter sintomas intensos da TPM pode ser sinal de algo mais?

Pode sim. Mas só é motivo de atenção em um caso bem específico, quando os sintomas da TPM são tão intensos física e emocionalmente que chega ao ponto de ser insuportável, pois pode ser um indício de Transtorno Disfórico Pré Menstrual (TDPM). 

O TDPM não é uma doença, mas uma condição física e psicológica que ocorre especialmente durante a TPM que pode atrapalhar nossa rotina um pouco, e às vezes está associada a casos de ansiedade e depressão.

Pra ter certeza disso, só com ajuda médica, tanto da ginecologia quanto psicologia. E uma vez recebendo o diagnóstico, podemos dar início ao tratamento, se for o caso.

Esse transtorno não é muito comum, atinge de 3% a 8% das pessoas que possuem útero, segundo estudos da Pfizer em 2019, enquanto os sintomas normais da TPM chegam até a 80%.

Mas de forma geral, estar um pouco pra baixo nos dias de TPM não deve ser motivo de preocupação. Se bater aquele desespero, o melhor a fazer é respirar fundo, contar até 10 e pedir apoio pra alguém próximo de nós!

Vale lembrar que nem tudo o que sentimos tem origem nos ciclos! Nossa saúde mental pode interferir na nossa menstruação também!

Na verdade, várias coisas podem influenciar no nosso ciclo. Fatores como estresse, mudança na rotina, fumar ou beber em excesso, ganhar ou perder peso muito rápido, usar alguns medicamentos e até fazer práticas esportivas podem desregular ou atrasar nossa menstruação. 

E o contrário também! 

Uma boa alimentação e hábitos saudáveis ajudam a regular a menstruação e ainda diminuem os sintomas da TPM. Inclusive escrevemos um pouco sobre isso nesse texto aqui. 

Mas atenção! Isso não é uma regra. Esses são apenas alguns fatores que podem influenciar na regularidade do nosso fluxo.

Bora resumir esse papo todo?

Bem, se sentimos algo em nós que não entendemos muito bem, ou que parece desajustado, ou desequilibrado, o autoconhecimento é um passo importante pra conseguir lidar com isso.

Nesse sentido, compreender como nosso humor, nossa disposição e nosso ânimo podem ser influenciados por nossos ciclos menstruais é de grande ajuda. 

Bora começar nessa caminhada?